Ao sair da graduação, o Engenheiro tem um diploma nas mãos e todo o entusiasmo do mundo para iniciar sua carreira profissional. Muitos já saem da faculdade empregados (ou ao menos com esta perspectiva como estagiários) carregando sonhos de grandes conquistas. Afinal, foram anos de dedicação, suor e lágrimas! Este post tem o objetivo de apontar 3 erros comuns do engenheiro no início de carreira, mostrar estratégias para evitá-los e trazer uma reflexão sobre o real propósito da carreira de engenharia.
Porém, ao iniciar a vida profissional dentro das empresas, vários Engenheiros se decepcionam com alguns aspectos do mundo corporativo. Em alguns anos desenvolvendo profissionais que atuam no mercado de Tecnologia, pude observar algumas destas preocupações: como lidar com a relação de poder dentro das empresas, defender ideias em reuniões, gerenciar conflitos, gerenciar mudanças, ter uma comunicação assertiva, manter relacionamentos pessoais saudáveis, entre outros pontos relevantes.
“A faculdade de engenharia não nos ensina a lidar com estas situações”, disse-me um destes profissionais. De fato, nenhuma faculdade se propõe a fazer isto. No universo de Recursos Humanos, estas habilidades de caráter comportamental estão sendo chamadas de soft skills. Ao redor do mundo, muitas empresas estão ampliando os investimentos no desenvolvimento destas habilidades, por meio de Treinamentos, Coaching e Team Coaching. O termo soft skills vem em contraponto ao conjunto de habilidades ou competências chamadas de hard skills, ou seja, as habilidades mais técnicas de conhecimento puro.
As competências técnicas e o conhecimento sobre determinada tecnologia ou mercado são os passaportes para dentro das empresas. Em outras palavras, o conjunto de hard skills é condição mínima para que o Engenheiro ingresse no mundo corporativo. Em um ambiente tão competitivo como o mercado brasileiro, estes conhecimentos podem ser até mesmo difíceis de encontrar. O Engenheiro que acabou de sair da graduação (ou mesmo de uma pós-graduação) aposta todas a suas fichas no potencial destes conhecimentos de caráter mais técnico. E nem poderia ser diferente. Afinal, ele passou anos em uma sala de aula aprendendo a importância de dominar os fundamentos teóricos e práticos da profissão.
Dentro destas condições de contorno, trago aqui neste post os 3 erros comuns do engenheiro no início de carreira. Vamos a eles então:
1. Confiar seu sucesso apenas ao conjunto de competências chamado de hard skills.
Como já comentamos, grande parte dos Engenheiros que deixam a faculdade carrega a crença de que o sucesso profissional poderá se sustentar apenas com seu conhecimento técnico (teórico e prático), adquirido ao longo dos anos de estudo no mundo acadêmico. Muitos acreditam ainda que não precisam desenvolver habilidades de relacionamento interpessoal, comunicação ou gestão do stress.
Por outro lado, estas habilidades estão sendo cada vez mais demandadas no mercado. Muitos profissionais de Recursos Humanos (e empresas de recrutamento e seleção) estão se especializando para conduzir entrevistas, aplicar assessments e dinâmicas de grupo capazes de identificar estas competências intangíveis, porém, extremamente necessárias para determinadas funções no ramo da Engenharia. Afinal, gerenciar obras em campo, lidar com equipes de instalação, negociar com fornecedores e apresentar resultados de projetos, entre outras funções importantes traz desafios que a faculdade de Engenharia abordou de forma muito superficial. O aspecto comportamental tem sido uma grande preocupação das empresas, principalmente em áreas como escassez de profissionais como é o caso da Engenharia. Muitas demissões ocorrem devido a aspectos comportamentais e não por questões de conhecimento técnico.
2. Delegar a responsabilidade do seu desenvolvimento para as empresas.
Este é um erro muito comum não só para Engenheiros em início de carreira, como para muitos que já possuem anos de experiência. No início da jornada profissional, muitos Engenheiros entendem que ainda é muito cedo para fazer treinamentos e cursos voltados para desenvolver liderança, comunicação, relações interpessoais, entre outros pontos não-convencionais. Muitos inclusive deixam para a empresa a tarefa de investir nestes aspectos em suas carreiras. Trata-se de um grande erro. Em neurociência, sabemos que o cérebro tem uma grande dificuldade para desfazer conexões existentes. Estas conexões existentes são responsáveis por moldar hábitos e comportamentos. Por outro lado, sabe-se que o cérebro é muito hábil para construir novas conexões. É a chamada neuroplasticidade.
Por dar muito valor ao raciocínio cartesiano e analítico, muitos Engenheiros possuem comportamentos e hábitos justificados por inúmeras experiências onde a lógica os fez bem sucedidos. Em outras palavras, grande parte dos seus raciocínios consiste na busca por argumentos para defender aquilo que já acreditam. Entretanto, o mundo corporativo exige habilidades onde a lógica pode ser uma grande inimiga. Afinal, seres humanos não são criaturas de lógica. Desta forma, é muito útil para Engenheiros participarem de Programas de Desenvolvimento do conjunto de competências chamado de soft skills o quanto antes em suas carreiras, sem esperar por uma eventual iniciativa da empresa. Caso queira se aprofundar, elaboramos um whitepaper interessante sobre este assunto: Mitos e Benefícios do Plano de Carreira no Século 21.
3. Interpretar competências chamadas de soft skills com um tom pejorativo
Um outro erro muito comum dos Engenheiros que deixam a vida acadêmica e iniciam a vida profissional é interpretar este conjunto de competências chamado de soft skills com um tom pejorativo, confundindo-se com manipulação. Ao iniciar a vida profissional, é muito comum observar Engenheiros com dificuldade de diferenciar a verdadeira manipulação com poder de influência. Há uma diferença enorme entre manipular e influenciar. Manipular pressupõe uma relação perde-ganha. Existe sempre o papel do manipulador e do manipulado. Para que um possa ganhar, o outro precisa perder. Já a capacidade de influenciar, parte do pressuposto que há uma relação ganha-ganha. Trata-se de trazer as pessoas para o seu modo de pensar, obtendo cooperação e liderando novos comportamentos. No fundo, estamos falando dos fundamentos da liderança moderna. No início da carreira, muitos Engenheiros acabam confundindo uma coisa com a outra, formando uma opinião precipitada sobre esta questão.
Como se pode ver, o mundo corporativo traz uma grande mudança de paradigma para os profissionais de Engenharia. Acredito que esta situação se aplica também a outras profissões. Entretanto, no caso da Engenharia trata-se muitas vezes de um grande choque e uma questão de sobrevivência.
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