Ao longo da vida desempenhamos uma série de papéis. Temos que “vestir o chapéu” de diversos protagonistas: somos colaboradores, líderes, cônjuges, pais, irmãos, filhos, etc. Em um mesmo dia, subimos e descemos de diversos ‘palcos’ que a vida nos convida a atuar. Esta dinâmica complexa exige-nos desenvolver flexibilidade na interação com as pessoas. E um dos aspectos mais importantes desta flexibilidade diz respeito ao quanto estamos dispostos em investir na qualidade dos nossos diálogos.

Nossa forma de dialogar se adapta naturalmente aos papéis que estamos desempenhando. Em outras palavras, não falamos com o colega de trabalho da mesma forma como falamos com nossos filhos ou um vizinho. Mas em todos estes “palcos” da vida, quem é afinal responsável pela qualidade dos diálogos? Somos responsáveis apenas por aquilo que comunicamos ou também somos responsáveis pelo que a outra pessoa entendeu?

Em um primeiro momento podemos concluir que somos responsáveis apenas pelo conteúdo comunicado (mensagem). Nosso primeiro reflexo é afirmar que não deveríamos também nos responsabilizar pelo que outra pessoa entendeu. Afinal, já estamos fazendo um esforço enorme, ajustando-nos ao papel que estamos exercendo, adaptando nosso estilo de comunicação ao interlocutor “da vez”. Correto?

ERRADO! Somos também responsáveis pelo que o nosso interlocutor entendeu!

Ah! Mas como garantir que a outra pessoa interpretou corretamente o que eu disse? E se eu falo “A” e ela entende “B”? Como posso me tornar responsável pelo raciocínio da outra pessoa?

Perguntas interessantes…

Coruja

Vamos lá… Como nos sentimos quando ouvimos a frase: “Você entendeu errado! Não foi isso que eu disse!”? Normalmente, nossa primeira reação é negar e consequentemente entrar em conflito… “Oras! Como assim? Eu entendi muito bem o que você quis dizer!”.

No mundo do marketing, um cliente não pode ser culpado por não entender a mensagem de valor que a empresa está tentando passar a ele. Mesmo que a empresa esteja certa na sua comunicação, estará certa no ponto de vista de quem? Da mesma forma, um destinatário de um email não pode ser responsabilizado por não interpretar corretamente o conteúdo da mensagem enviada. Mesmo que o conteúdo do email esteja claro, estará claro no ponto de vista de quem?

Boa parte das vezes, quando nos propomos a dizer algo, “temos a certeza” de tê-lo feito claramente. Agora vamos pensar… esta certeza é observada através de qual ponto de vista? E se utilizássemos esta nossa “incrível capacidade de estarmos certos sempre” para fazer um diagnóstico do ponto de vista do nosso interlocutor? Em outras palavras, que tal usarmos este “avidez pela certeza” para verificar se o que dissemos foi entendido como gostaríamos que fosse?

No fundo, entendo que devemos pensar neste exercício como algo nobre. Quando mostramos interesse verdadeiro e gentil na outra pessoa, somos capazes de respeitá-la… inclusive no seu direito à interpretação.