Há alguns meses, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou um estudo sobre o mercado brasileiro de Engenharia. A análise revela que 58% dos Engenheiros brasileiros não atuam na sua área de formação. Há uma série de fatores que podem explicar este resultado. Este post não pretende abordar tais fatores, mas sim fazer algumas reflexões importantes para Engenheiros que queiram se destacar no mercado de trabalho, à luz destas circunstâncias.
Se você é um engenheiro e se esta curva se mantiver, há uma chance maior do que 50% de que você acabe desenvolvendo uma carreira fora da sua área de formação ao longo do tempo. Destacar-se em um ambiente como este traz um desafio que transcende os ensinamentos adquiridos nos bancos da faculdade.
É evidente que ao sair da sua área de atuação, qualquer profissional passa a ter a necessidade de desenvolver outras competências. Além disto, é crescente o número de papéis que os engenheiros precisam desenvolver independentemente da área de atuação. A própria ascensão na carreira traz desafios relacionados a liderança, gestão de pessoas, comunicação, etc. Portanto, mesmo que atue na sua área de formação, é muito provável que você enfrente uma série de desafios relacionados com aspectos pouco abordados nas faculdades de Engenharia. Atuando como Coach, tenho conversado com muitos Engenheiros e por diversas vezes, ouço-os comentando sobre alguns dilemas. Eu mesmo como Engenheiro já passei por várias situações semelhantes. Por exemplo:
• Devo manter o foco na área técnica ou sigo para a área comercial?
• Se eu for trabalhar em vendas, estarei jogando fora todos os anos de investimento na minha formação técnica?
• Puxa! Seria tão bom seguir em uma área acadêmica… Acho que vou fazer um Mestrado!
• Será que um MBA em Marketing ou em Finanças me deixaria muito distante dos avanços tecnológicos, a ponto de me deixar desatualizado tecnicamente?
Neste cenário, decidi escrever este post como objetivo de passar 5 dicas úteis para um Engenheiro em busca de destaque. Estas dicas surgiram a partir da minha experiência atendendo Engenheiros em Programas de Coaching bem como recebendo-os nas salas de treinamento do Instituto Dale Carnegie. Elas se aplicam tanto a quem esteja atuando na sua área de formação, como àqueles que estejam pensando em provocar alguma mudança de carreira. Estas dicas não têm como objetivo ajudar a solucionar dilemas como os apresentados acima. A ideia é abordar alguns pontos que, se não trabalhados, podem se transformar em ´road blocks´ para a carreira de um Engenheiro, independentemente do caminho a ser percorrido.
Vamos a elas:
1. Aprenda a dizer “eu não sei”
O processo de formação dos nossos Engenheiros premia a “resposta certa e imediata”. Em outras palavras, os estudantes de Engenharia são levados a entender que precisam sempre ter a resposta certa no exato momento em que a pergunta é feita. Não basta que a resposta esteja correta. Ela precisa ser apresentada imediatamente. E quem apresenta a resposta correta no menor prazo (muitas vezes medido em segundos) é enaltecido. No mercado de trabalho, esta mente que aprendeu a vincular sucesso com precisão e rapidez passa a enfrentar uma enorme pressão por resultados. Este padrão mental sente-se à vontade no início, na medida em que as respostas são conhecidas. Mas ao longo do tempo, quando as perguntas começam a ficar mais complexas, esta mente obcecada por precisão e rapidez tende a ter dificuldade em admitir que precisa de tempo para dar uma reposta coerente. Ainda mais em um ambiente que tende a valorizar a forma em que a resposta é dada. Assim, acaba-se desenvolvendo uma grande dificuldade em dizer três palavras mágicas: “eu não sei”.
Dizer “eu não sei” traz benefícios. E o cérebro precisa perceber estes benefícios para mudar seu modo funcional, gerando novos mapas mentais que serão os embriões de novos hábitos e comportamentos. Da próxima vez que se deparar com uma questão muito complexa que exija reflexão, não se precipite em tentar dar uma resposta rápida e precisa. Você não precisa ter uma opinião formada sobre tudo, a todo o momento e para todas as pessoas.
2. Não julgue as pessoas
Cuidado com os julgamentos. Mesmo que proferidos (ou mentalizados) de forma sutil, o julgamento é uma poderosa ferramenta de destruição de relacionamentos. Julgar o trabalho ou o comportamento de alguém não é uma escolha assertiva. Grande parte das vezes, nossos julgamentos são frutos de emoções que surgem como consequência de alguma frustração. O alto grau de exigência das mentes precisas e cartesianos dos engenheiros aumenta as chances de ocorrência de frustrações. Afinal, nem todos os raciocínios são tão precisos e analíticos em um mercado de trabalho heterogêneo e repleto de diversidades. O processo de percepção é subjetivo. Não percebemos o mundo como “ele é”. Percebemos o mundo como “somos”. Isto ajuda a explicar porque o mesmo fato é visto de maneira diferente por pessoas diferentes. Este é um dos principais fatores que alimentam os julgamentos. Julgamos o outro tomando como base a simples constatação de que o que está sendo visto por ele é diferente do que vemos. Da próxima vez que estiver prestes a emitir um julgamento por se sentir frustrado, procure identificar qual a emoção que está por traz desta frustração (medo, raiva, etc.). Identifique-a. Observe seu corpo, respire fundo e escolha agir com assertividade.
3. Descubra e fale sobre coisas que interessem às outras pessoas
Quando falamos com as pessoas, tendemos a procurar os assuntos que dominamos. Nosso cérebro está sempre em busca de certeza. Falar de assuntos que estão sob o nosso domínio traz esta certeza. Trata-se de um mecanismo padrão do nosso comportamento em busca de destaque. Este mecanismo padrão interpreta que o destaque virá da eloquência e entusiasmo que aplicamos ao discorrer sobre assuntos que estão na nossa Zona de Conforto. Entretanto, é exatamente o contrário que devemos fazer se quisermos nos destacar. Como engenheiros, temos um arcabouço de dados e informações acumulados ao longo da nossa experiência. Esta condição tende a nos fazer pensar que o destaque que tanto buscamos virá pela importância que os outros darão ao nosso elevado grau de conhecimento. Em busca de destaque, queremos ser importantes para as pessoas que trabalham conosco. Acontece que a nossa importância é medida por quanto nos importamos pelos assuntos que interessam às pessoas para as quais queremos ser importantes. Se você busca destaque, estabeleça diálogos que criam ligações positivas. E para fazer isto, um dos caminhos é inverter o gatilho de busca de destaque do cérebro, entrando em conversas sobre assuntos que eventualmente não dominamos, buscando com sinceridade aprender algo novo com a outra pessoa.
4. Lembre-se que pessoas não são criaturas de lógica
Engenheiros possuem uma grande paixão pela lógica. Somos exatos. Acreditamos que (quase) qualquer coisa na natureza pode ser explicada através de uma equação. Quando esta equação pode ser expressa de forma gráfica entramos em êxtase. Este padrão que define a forma como construímos grande parte dos nossos pensamentos nos faz esperar que os demais seres ao nosso redor também sejam lógicos. Tendemos a ver as pessoas como sistemas. Uma combinação de impulsos de entrada gerando resultados mensuráveis e previsíveis na saída. A partir deste padrão equivocado, surgem frustrações como “Nossa! Fulano é imprevisível! Cada hora reage de um jeito!”. Em seu livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, Dale Carnegie já dizia: “Quando tratamos com pessoas, lembremo-nos sempre de que não estamos tratando com criaturas lógicas. Estamos tratando com criaturas emotivas, criaturas suscetíveis às observações norteadas pelo orgulho e pela vaidade”. Uma maneira prática de fazer isto é observar nossas emoções. Muitas vezes somos levados a valorizar o lado racional e lógico e tendemos a desvalorizar o aspecto emocional das relações. Portanto, se quisermos ganhar destaque, devemos prestar mais atenção às nossas emoções. Ao identificá-las, nomeá-las e registrar a sua intensidade, passamos a ficar mais perspicazes para identificar as emoções que os nossos interlocutores podem estar sentindo.
5. Comunique-se com entusiasmo
Em busca de destaque nas interações diárias, a nossa mente de engenheiro busca valorizar o conteúdo daquilo que estamos transmitindo. Tendemos a investir muito tempo em lapidar os detalhes do assunto para o qual queremos atenção. Tendemos a aperfeiçoar nossos argumentos quando estamos defendendo uma ideia. Obviamente, tudo isto é muito importante e precisa ser feito. Porém, geralmente nos esquecemos de um componente importante na comunicação: a forma. Se queremos nos destacar na multidão, precisamos dar mais valor a aspectos intangíveis e aprender a despertar o entusiasmo ao longo das nossas interações com outras pessoas. O conteúdo preciso a ser transmitido será muito mais lembrado quanto maior for o entusiasmo utilizado na sua transmissão. Lembre-se! Colocar entusiasmo na forma com que damos um simples “Bom dia!” é uma escolha. Experimente! Coloque um pouco mais de entusiasmo nas suas palavras e perceba a reação das pessoas. Perceba ainda o que acontece com seu corpo e conclua a respeito.
Como podemos ver, os pontos que trarão o destaque que procuramos estão muito relacionadas com aspectos comportamentais e não com conhecimento técnico. É fundamental ampliar a consciência sobre a importância de desenvolver habilidades de relações humanas, comunicação e venda de ideias.
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