Em seu livro “Five Dysfunctions of a Team“, Patrick Lencione aborda as disfunções de uma equipe dentro do ambiente organizacional. Ele discorre sobre os 5 principais fatores levam à deterioração de uma equipe: falta de confiança, medo do conflito, falta de comprometimento, evasão de responsabilidade e desatenção aos resultados. A imagem abaixo ilustra tais disfunções. Este post pretende trazer algumas reflexões sobre como se tornar um líder que inspira confiança . Nossa premissa: correções na base da pirâmide de Lencione podem trazer consequências positivas para reverter as demais disfunções.
Já falamos aqui neste blog sobre a importância dos conflitos saudáveis dentro de uma empresa. Quem trabalha (ou já trabalhou) em alguma equipe ou organização onde os conflitos não são saudáveis sabe do que estamos falando. Em ambientes assim, o medo do conflito é crônico e crescente. E isto não é difícil de entender. Afinal, trata-se do modo natural do ser humano de se afastar das ameaças. E o medo é uma das emoções mais fortes neste contexto.
Segundo alguns neurocientistas, a manifestação do medo (assim como outras emoções) se dá por meio de uma memória emocional: um sistema complexo e primitivo, do tipo “bateu-levou”. Este sistema age de maneira rápida, provocando rações imediatas e inconscientes, desconsiderando aspectos cognitivos. Trata-se de um processo dirigido por uma série de fatores. Entre eles, um sistema de resgate de experiências passadas. Em um ambiente onde os conflitos são registrados na memória como experiências ameaçadoras, fatalmente a nossa reação a novas situações de conflito será adequada a esta interpretação. E segundo a neurociência, este processo ocorre longe do mundo cognitivo. [Quer saber mais sobre isto? Leia o artigo: Exercícios para treinar a Inteligência Emocional em 8 dias.]
Mas como fazer para que os conflitos sejam saudáveis? Lencione traz uma resposta simples de entender, mas difícil de se colocar em prática. Segundo o autor, devemos investir em uma cultura que seja capaz de criar um ambiente de confiança. Onde há uma liderança que inspira confiança, os conflitos são saudáveis e cria-se o caminho para o aumento do comprometimento de todos.
O que significa confiança na prática?
O que precisamos fazer especificamente para inspirar a confiança?
Bob Whipple é um dos maiores especialistas sobre confiança aplicada à liderança organizacional. Ele estudou o fenômeno da construção da confiança em dezenas de organizações, e entrevistou diversos CEO´s sobre o assunto. Segundo Whipple, a confiança não é um conceito que se aplica de maneira binária, ou seja, “confio em você” ou “não confio em você”. A confiança precisa ser vista como um conceito multifacetado e dinâmico. Observar a construção da confiança por meio destas facetas poderá permitir enxergar a verdadeira beleza por traz deste fenômeno.
São elas: consistência, confiabilidade, valores comuns e segurança.
Abaixo, pretendemos abordar cada uma destas facetas:
1 – Consistência
Eu posso cofiar mais em você quando percebo que você age de acordo com o que fala. Parece fácil entender a importância desta faceta e é até natural imaginar o quanto desejamos ser consistentes aos olhos das pessoas ao nosso redor. A nossa integridade é construída de acordo com a consistência percebida em nossas ações. Portanto, a consistência não está vinculada à intenção, mas sim à percepção. E a percepção do outro está condicionada por seus filtros e crenças. Além disto, a nossa consistência é testada justamente nos momentos mais delicados do convívio pessoal, ou seja, quando enfrentamos um elevado grau de stress. Inúmeros executivos caem nesta armadilha. Em situações de stress, muitos deles acabam agindo de forma inconsistente ferindo gravemente a confiança da equipe. [Quer saber mais sobre este assunto? Leia o artigo: Descubra como o Coaching pode ajudar no controle do stress.]
2 – Confiabilidade
Em filmes de guerra ou policiais, geralmente temos aquelas cenas de confronto entre os personagens no meio de um tiroteio. Nestas cenas, é comum vermos momentos onde um personagem pede cobertura para deixar o seu posto e dirigir-se até um outro local. Assim, enquanto o deslocamento é feito o outro membro da equipe faz inúmeros disparos para (tentar) garantir que seu companheiro chegue ao seu destino em segurança. O “pedido de cobertura” ilustra esta faceta da confiabilidade. Posso confiar mais em você quando tenho convicção que você irá “cobrir as minhas costas” quando eu precisar. Algo como: “Sei que você sempre fará as coisas de acordo com o meu interesse”. Um líder que possui confiabilidade é capaz de criar uma percepção de que suas ações estão sempre “de acordo com os interesses da sua equipe”. Neste sentido, comunicação aberta e transparente é fundamental para ampliar a confiabilidade.
3 – Valores comuns
Eu posso confiar mais em você se as suas palavras e ações demonstrarem que temos valores em comum. Este é um viés do cérebro. A neurociência ajuda a explicar esta questão. Nosso cérebro é uma máquina de predições. Embora possa trazer algumas armadilhas, esta característica é útil pois nos faz economizar energia. Este mecanismo é responsável por classificar rapidamente as pessoas em ‘in-group’ ou ‘out-group’. Algo como: “pessoas como eu são melhores que os outros”. Se percebemos que a outra pessoa compartilha valores conosco, tendemos a classifica-la no ‘in-group’, e passamos a confiar mais nela. [Na Dialogas, um dos principais valores em que acreditamos é a gratidão. Você compartilha deste pensamento? Venha participar do Projeto “Quero expressar a minha gratidão”]
4 – Segurança
Posso confiar mais em você quando sinto que posso dizer o que penso sem medo de julgamentos. Esta talvez seja uma das facetas mais importantes no ambiente corporativo. O convívio no trabalho exige a contínua troca de informações e opiniões. A todo o momento, somos chamados a expressar nossos pensamentos e tomar decisões. O líder precisa criar um ambiente onde a equipe se sinta à vontade para dizer o que pensa, sem medos de julgamentos, críticas ou condenações. Um ambiente assim é fundamental para que as pessoas se sintam acolhidas e tenham abertura para compartilhar suas preocupações, ideias e sugestões. [Quer saber mais sobre este assunto? Leia o artigo: 7 dicas para se tornar um líder mais generoso.]
Analisar o fenômeno da confiança como um conceito dinâmico e multifacetado permite perceber o seu caráter não-binário. O nível de confiança entre as pessoas tende a oscilar de acordo com a leitura que se faz destas facetas nos diversos momentos de interação humana.
Bob Whipple faz uma brilhante analogia: imagine o conceito de confiança como sendo um caleidoscópio capaz de criar infinitos e complexos mosaicos, conforme você vai movendo-o na presença da luz. As peças de vidro são as mesmas, mas os espelhos no caleidoscópio, assim como as diferentes categorias de confiança, podem formar novos mosaicos na medida em que vamos interagindo diariamente com as pessoas.
Venha conhecer um pouco mais sobre o MBTI e descubra características do seu tipo psicológico. Esta descoberta poderá trazer luz sobre os fatores de confiança mais sensíveis para você, assim como ideias de como conquistar a confiança com mais facilidade na interação com as outras pessoas.
Autor: Bruno Bakaukas Neto
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