Passei minha infância em São Paulo, mas lembro-me com carinho das viagens para o interior quando ia visitar meus avós. Meu avô era um homem forte, dedicado e trabalhador. Vindo de fora do país, enfrentou desafios enormes para se estabelecer no Brasil. Lembro-me com muita alegria do seu armazém, onde ele vendia uma série de mantimentos. Grande parte dos produtos eram trazidos do interior do Brasil e vendidos a granel: arroz, milho, feijão, etc. Uma balança de armazém antiga era usada para pesar os grãos, que eram vendidos em um saco de papel fechados com uma fita adesiva. Bons tempos!

Uma balança de armazém. Fico imaginando como seria equilibrar vida pessoal e profissional em uma balança deste tipo. Impossível! Mas não pelo motivo que você está pensando.

O ato de equilibrar pressupõe colocar-se ou manter-se em uma posição estável ou nivelada, ou seja, trata-se de uma busca por harmonia. Mas na prática, não há uma “vida pessoal” e outra “vida profissional” para nivelar ou harmonizar. Somos apenas um, definindo a qualidade das nossas vidas através das ações que executamos. E quanto maior for o nosso equilíbrio, melhores serão as nossas ações. E adivinhe quem é o responsável por fazer isto? Nós mesmos! Portanto, este conceito de “duas vidas” que precisam ser equilibradas está equivocado. E ter esta consciência já traz um grande benefício: a clareza de que não temos que exercer dois papéis. Afinal, as coisas estão interligadas. Somos únicos, e com uma única vida que precisa de ser conduzida com equilíbrio. E condução significa protagonismo. Ter esta consciência é o primeiro passo. Porém, para que esta consciência proporcione benefícios tangíveis, é preciso agir de acordo com a incorporação desta (nova) maneira de pensar.

Mas então, o que fazer de diferente para conseguir o verdadeiro equilíbrio e dedicar tempo para os mais diversos aspectos importantes da nossa (única) vida? Vamos responder a esta pergunta com base em um princípio fundamental da neurociência, que diz respeito à importância de termos uma visão clara de onde queremos chegar. O córtex pré-frontal é a região do cérebro que toma decisões e é responsável pelo raciocínio analítico. É como se fosse a nossa “memória de trabalho”. Em contrapartida, temos outras regiões do cérebro (principalmente o hipocampo) que armazenam as nossas memórias e aprendizados de longo prazo (hardwiring). São as nossas conexões (ou mapas mentais) existentes. O hardwiring armazena tudo o que sabemos, aprendemos, memorizamos, enfim, tudo o que fazemos automaticamente. Este mecanismo é muito útil para economizar energia no cérebro. Desfazer o que está no hardwire é muito difícil. E boa parte do que fazemos de forma automática no nosso cotidiano está armazenado no hardwire: escovar os dentes, tomar banho, deslocar-se de casa para o trabalho, etc.

A pergunta que fica é: até que ponto as ações que nos afastam do equilíbrio que tanto almejamos estão armazenadas neste hardwire?

É fácil imaginar a resposta para esta pergunta. Nossas prioridades estão claras. Sabemos o que precisamos fazer. Porém, quando observamos nossas ações percebemos que elas não refletem esta clareza. E aí começamos a colocar a culpa em fatores externos: o mercado de trabalho, a falta de tempo, aos imprevistos, etc. E é muito provável que este pensamento já esteja no nosso hardwire, de forma que ficamos praticando diálogos internos que só nos fazem realimentar o desequilíbrio e a angústia.

Mas há uma boa notícia! Podemos construir novos mapas mentais. E isto precisa ser feito pela memória de trabalho, ou seja, pelo córtex pré-frontal. Mas para que esta parte do cérebro trabalhe de forma adequada, é preciso haver foco. Só podemos mudar aquilo que focamos. O foco irá preceder a formação de novos mapas mentais que irão sustentar as novas ações em busca do tão desejado equilíbrio.
Portanto, o grande segredo para equilibrar a nossa vida é dar foco consciente a uma meta específica, diretamente relacionada com o atingimento tangível do equilíbrio buscado.
Para facilitar, veja abaixo algumas perguntas que poderão ampliar a clareza de como fazer isto. Pergunte-se:

  • Qual a minha definição de equilíbrio?
  • O que irá acontecer na prática quando eu obtiver este equilíbrio?
  • É algo que eu posso medir? Como?
  • Qual a meta que eu posso colocar para me inspirar?
  • O que vou fazer de diferente para focar nesta meta?
  • O que vou fazer de diferente no exato momento em que perceber que perdi o foco na meta?

Estas duas últimas perguntas abordam a questão do foco. E elas são as mais importantes, pois estão intimamente relacionadas com o córtex pré-frontal.
Espero que o conteúdo deste post possa nos ajudar a dar passos consistentes na busca pelo equilíbrio. E que assim como na balança de armazém do meu avô, este equilíbrio traga alegrias e prosperidade!